Imprensa Sindical por Val Gomes

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A imprensa sindical na reconstrução do Brasil e no mercado de trabalho

Blog Imprensa Sindical – Qual a expectativa para a Imprensa Sindical de trabalhadores neste novo governo federal?

Marina Valente – É também de reconstrução. Precisamos que o governo entenda o papel da imprensa sindical com o igual respeito que tem dado aos mídia ativistas e os demais meios de comunicação relacionados ao campo progressista. A imprensa sindical ainda não tem o alcance de um grande portal como o 247, DN ou o Brasil de Fato. Nem tem o público de uma mídia ativista como a Rita Von Hunty.  Mas somados temos igual alcance e uma capilaridade que sempre foi fundamental para a organização e formação teórica da classe trabalhadora. O jornalismo sindical é estruturante, portanto, merece ser cuidado, financiado e referendado. Neste momento, ele precisa ser construído teoricamente e modernizado na questão prática. Ao mesmo tempo, ele tem o dever de ajudar nesse papel de reconstrução do País, cobrando, informando, educando e deixando de lado o caráter meramente institucional. É hora de política pública de comunicação e temos o papel de cobrar e o direito de receber isso deste Governo.

Blog Imprensa Sindical – Neste contexto, o que as entidades sindicais precisam fazer?

Marina Valente – As entidades sindicais devem investir pesado em comunicação. Primeiro fazer uma pesquisa de seu público alvo – quem é  a classe trabalhadora brasileira? Depois criar um veículo próprio de peso, seja ele coletivo ou somente da entidade, um grande jornal, um grande portal, uma tv ou uma rádio. Não importa! Mas que tenha uma programação completa que vá desde o jornalismo concreto aos programas de variedades com a mensagem de formação presente de uma forma agradável.  E investir nisso, cobrar do governo investimento. Tudo isso reconstruindo nossas bases teóricas. Jornalismo sindical não se aprende apenas na academia. Nossa teoria é outra e costuma ser descartada ou menosprezada por uma academia que forma profissionais para o grande capital. Não e só aprender a fazer o lead, que é importante, mas saber que a até a forma como ordenamos informação na matéria tem relação com a escolha da ideologia por trás daquela notícia.

Blog Imprensa Sindical – Como está o mercado de trabalho para jornalistas em Fortaleza e no Ceará?

Marina Valente – Assim como o resto do país, não vivemos um bom momento. Os “passaralhos” fizeram muito estrago e somado com o processo de pandemia perdemos pessoas, outras foram demitidas e redações inteiras foram ficar em home office e ainda não temos uma total normalidade. Acredito que podem melhorar, se o Governo Lula entender, enfim, a importância de regulamentar e investir na comunicação.

Blog Imprensa Sindical – A Imprensa Sindical seria uma alternativa para os jornalistas que não encontram espaço na mídia tradicional?

Marina Valente – Não. Comunicação sindical não pode ser vista como alternativa de desemprego. Ela é uma corrente teórica de comunicação da qual devemos ter identificação. Eu sou jornalista sindical porque acredito nesse tipo de jornalismo e na sua legitimidade. Costumo “brincar” com minha equipe de que um jornalista sindical bom consegue emprego em qualquer redação, pois ele é treinado para escrever de forma muito clara e objetiva, e deve entender profundamente de política, direito, economia e nas horas vagas até de esporte para cobrir o campeonato do sindicato. Por outro lado, nem sempre, um “jornalista de redação” daria um bom jornalista sindical, pois mesmo que entenda de política, não necessariamente entende ela dentro da perspectiva de luta de classes e como isso funciona dentro do texto jornalístico. Um jornalista sindical de ponta se forma com muito tempo e muito estudo, mas para quem tiver esse desejo, é preciso humildade. Entender que, antes de nós, essa comunicação era feita por gente sem qualquer formação, mas com um conhecimento de mundo que não temos. É preciso aprender com eles. Juntar nosso conhecimento com o conhecimento da classe operária. Muita leitura, formação, militância.

Blog Imprensa Sindical – Para quem pretende entrar na Imprensa Sindical, quais as vantagens e desafios?

Marina Valente – A maior vantagem está exatamente na alegria de saber que seu ofício se transforma no potencializador da voz da classe trabalhadora. Não tem nada mais compensatório do que ouvir de uma trabalhadora que ela deixou de ser assediada sexualmente depois de uma matéria que você escreveu no jornal da entidade. Isso é só um exemplo do que já recebi de carinho e reconhecimento ao logo dos anos.  Os desafios são muitos, infelizmente, trabalhar para dirigentes sindicais, não necessariamente significa relação de trabalho descente, já tive muitos chefes maravilhosos que amo profundamente como heróis, mas também já fui muito assediada. Além disto, nem sempre é fácil convencer a entidade da importância da comunicação, seja da teoria ou até mesmo da compra de um equipamento. Trabalhadores ao se tornarem chefes, algumas vezes, se tornam reprodutores da opressão que sofreram.

Blog Imprensa Sindical – Por que nós jornalistas devemos nos sindicalizar?

Marina Valente – Jornalista é aquele que sai de ônibus para entrevistar o governador e volta a pé! Não é porque comemos, nos eventos, da comida do poder que fazemos parte dele. Somos operários da palavra. Que faz parte desse poder é o dono do jornal. Nossos salários são péssimos e nossos patrões cruéis. Inventam toda forma de nos descartar e ainda inviabilizam nossa dor. Se não for o sindicato, o que nos restaria? Se sindicalizar e ter coragem para dizer não é a prova real que você sabe o que significa fazer jornalismo e que seu texto jamais se submeterá ao medo que nossos patrões nos impõem.

Blog Imprensa Sindical – O que os Sindicatos de Jornalistas podem fazer para fortalecer e valorizar a Imprensa Sindical de Trabalhadores?

Marina Valente – Acho que o Ceará deu um bom passo ao criar nesta gestão a secretaria que faço parte. Estamos dando um recado aqui. Um reconhecimento. Agora é preciso começar a debater e depois começar a descobrir formas que tornem viável nossos acordos trabalhistas. Hoje, na prática, muitas entidades deixam de ter jornalistas por questões econômicas e outras criam formas diversas de contratação. Existe um precariado e uma precarização. Isso não rola. É preciso refletir, dialogar e começar a criar Convenções Coletivas de Trabalho para o nosso setor.

MARINA VALENTE

A jornalista Marina Valente é carioca e nasceu em 12 de fevereiro de 1979.  Fundadora e editora chefe da agência de notícias Metamorfose Comunicação, empresa de comunicação dedicada ao jornalismo sindical. Conhecida por sua capacidade de executar multitarefas é também designer, web designer, assessora de comunicação, palestrante, orientadora à comunicação e coordenadora de equipe. Ela também apresenta, de segunda a sexta-feira, o Programa Democracia no Ar da Rádio Atitude Popular onde já entrevistou personalidades como José Dirceu, Carol Pronner, José Genuíno, João Pedro Stédile, Vaneza Graziotin, Luizziane Lins, Ruy Braga, Geovanne Alves, Humberto  Costa, Sônia Guajajara, dentre outras. O programa é retransmitido por um pool de 13 rádios parceiras e 27 páginas de redes sociais e sites. Dentre as rádios, existem rádios comerciais, educativas e rádios ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).

SOBRE A METAMORFOSE: Fundada em 2006 e registrada em 2008, a Metamorfose Comunicação é uma agência de comunicação especializada em comunicação sindical. Além de já ter atendido mais de entidades sindicais de diversas instâncias, partidos progressistas e movimentos sociais, a agência também atende na área da educação e empreendedorismo. Gerando “COMUNICAÇÃO PARA TRANSFORMAR”. Uma comunicação humanizada a serviço do interesse público e da democracia, pronta para estar presente na luta da classe trabalhadora e sem medo de enfrentar o sistema.

OUTRAS INFORMAÇÕES: Filiada no Partido Comunista do Brasil (PCdoB) desde a época da faculdade, Marina Valente também foi militante secundarista e está atualmente na sua segunda gestão à frente da Secretaria de Comunicação do PCdoB Fortaleza. Foi presidente do Diretório Acadêmico Cartunista Henfil (FIC/DACH), fez parte da direção da União da Juventude Socialista (UJS) no Ceará e vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE/CE). É diretora de Profissionais de Mídias Comunitárias e Alternativas do Sindicato dos Jornalistas do Estado do Ceará (Sindjorce).

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