Imprensa Sindical por Val Gomes

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Símbolos da transformação

“… Deus diz isso para mostrar a Jó seu poder e sua força primitiva. Deus é como Beemot e Leviatã: a natureza fértil, abençoada – a ferocidade e impetuosidade indomáveis da natureza – e o perigo extremo da violência desenfreada. Mas o que destruiu o paraíso terrestre de Jó? A força desenfreada da natureza. A divindade, como mostra o poeta, simplesmente apresentou seu outro lado, ao qual chamamos Diabo, e soltou sobre Jó todos os horrores da natureza. O deus que criou tais monstruosidades, diante das quais os fracos e pequeninos homens estarrecem de medo, deve realmente conter em si qualidades que dão o que pensar. Este deus mora no coração, no inconsciente. Aí está a origem do medo do indizivelmente horrível, e da força de resistir a este medo. Mas o homem, isto é, seu eu inconsciente, é como um joguete, uma pluma, levada por muitos ventos em muitas direções, ora vítima, ora carrasco; e não pode impedir a ambos. O Livro de Jó nos mostra Deus agindo ao mesmo tempo como Criador e como Destruidor: Quem é este Deus? Esta pergunta se impôs à humanidade em todas as partes do mundo e em todos os tempos e sempre de novo, de forma semelhante: uma força do além, a que estamos abandonados, que cria assim como mata, uma imagem das necessidades e dos fatos inevitáveis da vida. Como, sob o ponto de vista psicológico, a figura de Deus é um complexo de ideias de natureza arquetípica, deve ser considerada como representante de uma certa soma de energia (libido), que aparece de forma projetada. Nas principais religiões da atualidade os atributos de Deus parecem ser derivados da imago paterna, em religiões mais antigas também da imago materna. São eles o poder dominador, o pai atemorizante e rancoroso (Antigo Testamento), e o pai amoroso (Novo Testamento). Em certas imagens pagãs o lado materno sobressai muito, acrescentando-se ainda o elemento animal, o teriomorfo. A ideia de Deus não é só uma imagem, mas também uma força. A força primitiva, que seu Hino ao Criador reivindica em Jó, o incondicional e implacável, injusto e sobre-humano, são atributos certos e verdadeiros da força natural dos instintos e do destino que “nos faz entrar na vida”, que faz “o pobre se tornar culpado”, e contra a qual a luta, em última análise, é inútil. O homem não tem outra alternativa a não ser pactuar de algum modo com esta vontade. O acordo com a libido em hipótese alguma é um simples deixar-se levar, pois as forças psíquicas não têm uma direção única e muitas vezes até se dirigem umas contra as outras. Um simples deixar-se levar dentro de pouco tempo acarretaria uma confusão enorme. Frequentemente é difícil, ou mesmo impossível, perceber a corrente fundamental e, com isto, a direção certa: colisões, conflitos e enganos são inevitáveis …”

C. G. Jung – Obra Completa
Livro 5 – Símbolos da transformação, páginas 78 e 79

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